Texto opinativo

Publicado no Tendências -Jornal Laboratório da Faesa -Vitória/ES – em Novembro de 2015, edição nº 95

Texto legível abaixo:

Estrangeirismos: guerras em torno da língua


  Você já reparou nas inúmeras placas comerciais escritas em inglês que passam pelo seu caminho? Isso acontece pelo uso de estrangeirismos a nossa volta. Estrangeirismo é o emprego, na língua de uma comunidade, de elementos oriundos de outras línguas. Mas e se um deputado tentasse proibir o brasileiro de usar estrangeirismos em seu dia a dia? O Projeto de lei de Aldo Rebelo tentou banir esse uso e o livro Estrangeirismos: guerras em torno da língua explica detalhadamente o motivo disso ser inadmissível.
  A leitura do Projeto de lei 1676/99, que “dispõe sobre a promoção, a proteção, a defesa e o uso da língua portuguesa”, proposto pelo deputado federal Aldo Rebelo (PcdoB/SP) deixa claro que o grande alvo de destaque são os estrangeirismos, mais precisamente se concentra nas palavras de origem inglesa. Rebelo destaca, na justificativa do Projeto, que o uso do estrangeirismo levaria à dominação do povo pela dominação da língua.
  Ao ler o Projeto de lei, me espantei, reação igual a do autor do livro. Porque a forma que é apresentado faz crer que é baseado em atitudes “bem intencionadas”, mas, na verdade, se inspiram em mitos e superstições. Reproduzindo um discurso conservador, elitista e ultrapassado, no que diz respeito à língua, percebo que Aldo Rebelo não deve ser ciente de que o Brasil é uma democracia, e por isso influências de outros países recorrem aqui naturalmente.
  Ainda diz que “estamos a assistir a uma verdadeira descaracterização da língua portuguesa, tal a invasão indiscriminada e desnecessária de estrangeirismos (…) como self-service”. Rebelo aponta o uso do termo “self-service” como uma ajudante da descaracterização da língua portuguesa. Estranho. As palavras estrangeiras são utilizadas para nos dar maior habilidade linguística e não para retirar a particularidade que a língua portuguesa possui.
  De acordo com o livro, a língua tem a qualidade de ser, ao mesmo tempo, um fenômeno histórico-cultural e um elemento constitutivo da individualidade particular de cada cidadão. Assim, desejar indiciar e punir a quem se servir de expressões estrangeiras é de uma profunda violência, de grande autoritarismo. As iniciativas de política linguística deveriam ser marcadas pela consideração da real necessidade de um povo. 
  O livro ressalta também que a falta de informação científica é  evidente em todas as informações do purismo linguístico que vêm jurando de pé junto que a língua portuguesa está sendo assassinada, que os estrangeirismos vão destruir a estrutura do português. Chega a ser engraçado de ouvir. O uso de estrangeirismos não empobrece a língua portuguesa, pelo contrário, possibilita a progressão do desenvolvimento do brasileiro, que pode escolher qual palavra utilizar em determinado contexto.
  Portanto, o uso do estrangeirismos enriquece a língua portuguesa. Até porque não deixaremos de lado nossa raízes para absorvermos completamente o estrangeirismo inglês. A língua inglesa é agregada a nossa língua por palavras simples e básicas e não pode ser vista como uma invasão dos norte-americanos para com o Brasil. O inglês é a fonte contemporânea de empréstimos ao português e as demais línguas, então, é fascinante ver uma pessoa empregar palavras estrangeiras no nome de sua loja ou em termos e expressões do dia a dia.